As “Head Shops” surgiram nos Estados Unidos durante o auge da contracultura, nos anos 60, como estabelecimentos destinados a comercialização de substâncias psicoativas e produtos relacionados principalmente ao uso da maconha. Nos anos 80 foi criado um movimento para acabar com as Head Shops do país, as quais foram obrigadas a vender apenas produtos para uso com substâncias legais e regulamentadas. Como resposta à esta medida, proliferaram-se os estabelecimentos legais com seus nomes furtivos e sinais luminosos extravagantes. Desde o chamativo sinal luminoso da maçã com folhas de maconha estampado na fachada do Adam's Apple em Chicago, até a simplicidade do letreiro de neon do The Fitter na cidade de Boulder, Colorado, criou-se uma linguagem de comunicação inspirada em fantasias letárgicas, disformes e coloridas, imagens que ficaram gravadas no imaginário coletivo daqueles que perseguiram a sub e contracultura ao longo da segunda metade do século vinte.
A descriminalização do uso da maconha para uso não medicinal, atualmente em vigor em dezesseis estados americanos, está lentamente transformando a antes estigmatizada Head Shop em um elemento integral da paisagem cultural estadunidense. À medida que a legalização vai ganhando território, os mais tradicionais estabelecimentos como o Adam's Apple de Chicago, o Captain Ed's de Van Nuys, ou o Pipe Dreams de San Francisco, passaram a ser vistos com outros olhos, menos como uma espelunca mal iluminada com suas luzes fluorescentes e mais parecida com o Vesuvio Café de San Franscisco, o The Bitter End e outras tantas instituições culturais da mesma época, agora celebradas por suas iniciativas sociais em tempos de grandes mudanças. Fato é que seus letreiros em neon, embora maltratados pelo tempo, permaneceram acesos e hoje, estão ganhando um novo brilho e novos discípulos.
Por mais de cinqüenta anos, a principal forma - e de fato a única - de identificar a presença da cannabis na cultura norte-americana, tem sido através dos onipresentes letreiros de neon das head shops. Estabelecidas no auge do movimento de contracultura e dedicadas à venda de todo tipo de parafernália relacionada ao consumo de tabaco e marijuana, esta última tem sido a verdadeira – se não a única – raison d'être das head shops estadunidenses. Por este motivo, durante a maior parte de sua história, os Coffe Shops americanos estiveram sempre se equilibrando sobre uma linha muito tênue entre legalidade e ilegalidade.
A reveladora e bem articulada publicação Cannabis, compilada por Marshall Ford para a revista CLOG, ilustra um pouco mais desta insólita história, retratando como as head shops americanas, embora continuem sendo em grande parte pequenos estabelecimentos independentes, apresentam um conjunto de características arquitetônicas comuns, as quais se referem às origens da contracultura e aquela velha linguagem de inspiração letárgica que, historicamente, nunca foi devidamente aceita ou reconhecida. No entanto, como a descriminalização do uso da maconha continua sua marcha em direção ao interior profundo dos Estados Unidos, cabe perguntar-nos se essa estética transgressora será capaz de sobreviver à corporatização da cannabis que mais cedo ou mais tarde – sem dúvida – virá.
A mais nova edição da CLOG examina as origens do uso médico e recreativo da cannabis, novos métodos de entrega, a legalização nos EUA e no mundo, a fiscalização policial e sua crescente aprovação pela industria do bem-estar. A recente edição também inclui uma entrevista com um dos principais distribuidores de cannabis no país, desvendando os mistérios do mundo dos testes de qualidade além de apresentar desde dentro, como funcionam as fazenda de cânhamo.